sexta-feira, junho 03, 2011

33 anos

"Quem aqui, como eu, tem a idade de Cristo, quando morreu?"

Confesso que sempre quis poder cantar essa música de boca cheia.

Trinta e três anos, idade de renascimento, redenção... será? Se nem posso mais tocar a balada do amor inabalável, pois hoje sei que o amor, mesmo o mais forte, se abala sim, como qualquer estrutura? "Na confusão do dia a dia, na dor de qualquer coisa", meu último ano foi ambíguo como eu sou, dramático como estou, com ápices de tristeza e felicidade, regados a trilhas sonoras marcantes, começando por "The Gentle Art of Making Enemies" (a gentil arte de fazer inimigos, Faith no More) e atingindo seu momento mais glorioso com "Your Song" (a mais bela canção de amor, seja na versão do Elton John, ou na do Billy Paul).

Mas a música-tema do ano deveria ser "Love Rollercoaster", do Red Hot Chili Peppers: "Tudo é justo no campo da justiça. O amor vem devagar, o amor vai rápido. Montanha Russa do amor - dizer o quê?". E dá-lhe sofrimento.

Nem minha teimosia foi arma, dessa vez. Por isso está resolvido, a trilha sonora do ano vai para "Just a Man", novamente eles, a banda que ensina pelo nome, Faith no More.

Os deuses do rádio ainda me fulminam com músicas que, dentro da minha mente supersticiosa, dizem muito. A grande virada sempre vem quando ligo o som e toca "Lucky Man" do The Verve, e sempre dá alguma merda quando toca "The Day", da obscura banda The The. Mas ao que parece não sou esse "homem de sorte", e o "dia em que minha vida certamente mudará" ainda não chegou.

Como os parcos leitores destes rascunhos sobre a vida podem perceber, os últimos três anos foram muito complicados. A vida nos desafia, as decisões que tomamos se tornam eternas, a difícil convivência humana nos torna frágeis e, por vezes, viver se torna um inferno. A complicada arte de seguir em frente.

No meio do inferno, na pior fase pessoal e profissional - esta última ainda envolvendo família e ideologia -, uma luz. Todos sabem que alio cem porcento da felicidade ao amor. Alguns podem imaginar que sou volúvel, afinal desde os vinte e sete anos foram seis textos, e quatro casos. Todos diferentes, todos com seus motivos e nuances. Mas não há nada que me impeça dizer com todas as letras: o último foi o mais intenso. Sentir o que estou sentindo agora, essa angústia da perda, esse choro incontido e constante, só pode significar que realmente amei de verdade. E sofro, pois ainda amo.

Calejado que estava, fiz tudo diferente. Me dediquei de corpo e alma ao meu IDEAL, essa palavra que definiu o encaixe perfeito, os gostos parecidos, até mesmo as diferenças que nunca foram impeditivas. Esse amor... que começou manso, seguiu lento como deveria e foi descoberto aos poucos, até tomar toda minha alma e enchê-la de felicidade, fé e esperança... acabou. Igual. Se sempre acaba, por quê começar?

Pode parecer ingenuidade, aos trinta e três anos ainda acreditar na utopia da felicidade senão plena, ao menos perene, mas eu sou assim, e justamente nessa idade fica complicado mudar nossa natureza mais enraizada. Sou possivelmente um tolo, adepto do "Filtro Solar" na voz do Pedro Bial, na verdade uma bela peça de propaganda enganosa. Se eu estivesse narrando no lugar dele, e pudesse dar uma só dica para o futuro além do filtro solar, seria essa: não compre passagens aéreas em 10 vezes.

O futuro nunca é certo, apesar da morte. Percebo cada vez de forma mais clara que o correto é viver o hoje, nunca o amanhã... mas... e o sonho?

Eu vivo de sonhar... talvez seja impossível para mim, conseguir pragmatizar assim a vida e seguir tranquilo, apenas contando com as próximas horas, afinal, como diria meu pai, "amanhã eu nem sei se vou estar vivo".

Será? Vou tentar parar de sonhar. Vamos ver se eu consigo.


(Just a Man - Faith no More, 1995)
"O homem nasceu para amar
Embora às vezes procure
Como Ícaro, voar mais alto.
E longe, mais solitário do que deveria
Para beijar o sol de leste a oeste
E erguer o mundo até seu limite
E agüentar o terrível poder
Com o qual só os deuses são abençoados
Mas eu, sou só um homem

E toda noite fecho meus olhos
Então não preciso ver a luz
Brilhando tão clara
Eu sonharei com um céu nublado.

E toda noite fecho meus olhos
Mas agora eu os tenho bem abertos
Você caiu em minhas mãos
E agora está me queimando"

Filtro Solar, Pedro Bial, clique aqui

27 anos
28 anos
29 anos
30 anos
31 anos
32 anos