terça-feira, junho 05, 2012

34 anos

"É o fim hoje
O calor se foi
O tempo se foi

F para falso
Não sinto erro
Não escondo erro (...)

(...) Nestes dias
Sou uma pedra respirando
Choro sozinho
Eu vencerei esta corrida
Eu sairei sozinho
Chegarei sozinho."
('Stripsearch', Faith no More)

Depressão é excesso de passado. Ansiedade, excesso de futuro. O presente é a chave para a sanidade.

Se nessa idade, por um lado, já estamos realizados em diversos aspectos da vida, por outro lado já estamos em uma fase de sentir uma estranha saudade daquilo que poderia ter sido diferente.

Talvez estejam curiosos para saber se eu consegui parar de sonhar. A resposta é não, ao menos neste último ano. Mas estou me esforçando.

Um dos problemas destas linhas que escrevo todos os anos, desde meus 27, é que às vezes uma história que aconteça nesse intervalo de tempo pode acabar sem ter o devido valor reconhecido, no resumo da vida que me propus a escrever.

Uma semana depois de meu último aniversário, aquilo que havia recém terminado, se reacendeu. A dor se foi e a esperança voltou. E foi lindo. Intenso. Viagens, lugares, sensações, planos... sonhos, enfim. Vivi o amor pleno durante um bom tempo, e pelas ciladas da vida e do destino, nos perdemos novamente, apenas há poucos dias. Um final, na prática. Pois no sentimento, para mim, nunca acabará. Então, tem como parar de sonhar, quando a vida nos concede pequenos sonhos, mesmo que em pílulas?

Ao mesmo tempo, o tal renascimento prometido veio, no auge da crise de meia idade. Não mudei de vida, não tive nenhum divisor de águas. Mas creio que com todas as patadas que tomei até hoje, consegui enxergar além, e ao mesmo tempo me interiorizar. A minha vida, durante 33 anos, sempre foi pautada numa enorme expectativa em relação aos outros. A solução para a felicidade, plenitude, sempre esteve calçada em amores, familia, amigos, pessoas. E o amor, seja qual for, nem sempre supera barreiras. 

Descobri, tardiamente, que minha felicidade depende só de mim, e que se basear minhas ações nas expectativas que tenho em relação à uma esposa, namorada, pais, irmãos, amigos, as chances de quebrar a cara serão sempre enormes. Isso tem um motivo muito claro de ser: as individualidades são intransponíveis. Ninguém fará do jeito que você sonhou, a não ser nos raros momentos cósmicos e espirituais em que duas pessoas desejam e agem exatamente da mesma forma. Utópico, não?

Eu sempre fui. E agora consegui deixar de ser. A vida continuará a acontecer, e passou da hora de eu ter como lema um dos conselhos que mais dei às pessoas nessa vida, mas que nunca consegui cumprir: "Nunca se decepcione com as pessoas. Decepcione-se consigo mesmo, por ter criado expectativas sobre elas".

Posso estar enganado, pode soar meio dramático, mas juro: a vida é bem mais plena dessa forma. Eu, comigo mesmo.

E minha única preocupação, a única pessoa a quem devo me doar hoje em dia, chama-se Manuela, minha filha, meu motivo, minha certeza de que não, não estamos nem ficaremos sozinhos nessa.

"Onde está o ritual?
E me diga onde está o gosto?
Onde está o sacrifício?
E me diga onde está a fé?

Onde está a caverna?
Para onde foi a sábia mulher?
E me diga onde..
Onde está todo o dinheiro que gastei.

Eu proponho um brinde ao meu auto-controle.
Você o vê, rastejando pelo chão.

Um dia existirá a cura para a dor..
E neste dia eu jogarei meus remedios fora."
('Cure for Pain', Morphine)

Algo de bom daí sairá. Consigo hoje, aos 34, o limite de idade para qualquer pós adolescente, focar o lado profissional, alheio à vida pessoal. Isso, para mim, já é uma grande vitória.

Somos de uma geração pensante, porém errante. Fomos engolidos pelo capitalismo, são poucos os meus amigos que realmente se dedicam de corpo e alma por uma causa pessoal, sem pensar nos fins que justificariam os meios, e esses eu aplaudo a cada passo conquistado.

Eu inverti a lógica, gastei todo o dinheiro que ganhei, e não foi pouco, nos últimos 10 anos, sendo romântico. Agindo na expectativa da arte, do bem coletivo, ou por simplesmente fazer as pessoas felizes. Como diz a música do Sly, "I could get out a pocket for fun" ("If you want me to stay", Sly and The Family Stone). A idéia agora é ser mais pragmático, e construir novamente o que deixei ruir interna e externamente.

Até porque tenho uma porrada de grandes pessoas ao meu redor. Gente da melhor espécie, da melhor qualidade, que me trouxeram uma centena de boas energias nesse dia, e que me fazem acreditar cada vez mais na vida, como ela é. Muito boa.

E foram esses, junto à minha família, que me ensinaram finalmente a voar.

"Pássaro Negro que cantas no morrer da noite
Pegue estas asas quebradas e aprenda a voar
A vida toda
Você só estava esperando este momento para decolar.

Pássaro Negro cantando no morrer da noite
Pegue estes olhos fundos e aprenda a enxergar
A vida toda
Você só estava esperando este momento para ser livre.

Pássaro Negro, voe. Pássaro Negro, voe
Para o clarão da escura noite."
(Blackbird, The Beatles)

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