sexta-feira, junho 12, 2015

37 anos

“Who wants to live forever?
 Forever is our today
 Who waits forever anyway?” (Who wants to live forever - Queen)

Não morri aos vinte e sete anos, nem aos vinte e oito, ou depois. Passada uma década, ao ler essas páginas, revejo um cara ansioso, que começou a escrever esses textos na pretensiosa intenção de ser útil, além de terapêutico, e tenho simpatia enorme por tudo que ele passou até se tornar eu.

Olhar para trás hoje e reencontrar esse período me traz um certo alívio, por ter passado por tantas oscilações na montanha russa da vida e estar aqui, meio tonto, mas em pé. A sensação de ter nadado em tantos mares revoltos para chegar nesse ponto, é recompensadora.

Mais uma perda me transferiu novamente a carga de me sentir privilegiado, por poder continuar. Mais um grande amigo se vai e eu fico aqui para contar. E choro. Choro meus mortos e choro minha própria morte por saber como é difícil para quem fica. Antes, meu maior medo era morrer sem realizar nada. Hoje o medo é pelo sentimento de perda que deixaria entre os meus. Com medo, mas menos pavor, quero viver até o último sopro.

Com todos os contratempos e perdas, o maior legado é aprender a aproveitar o que temos. Ser feliz com a vida, com a consciência de ser. Livres para simplesmente existirmos, podemos sair perambulando e esperando que a nossa história se apresente.

“Ramble on... and now's the time, the time is now, to sing my song
I'm going around the world, I got to find my girl, on my way
I've been this way ten years to the day..
Ramble on.. gotta find the queen of all my dreams” (Ramble On - Led Zeppelin)

Dez anos foram suficientes para entender os erros e os acertos, compreender a finitude e lidar com ela. Os vinte e sete anos, no mundo contemporâneo, são de certa forma um divisor de águas entre a juventude e a vida adulta. A partir de agora, aos trinta e sete, sinto que seja hora de aproveitar a maturidade obtida a tão duras penas. 

Um ano é período suficiente para podermos alternar bons e maus momentos, iniciar e terminar histórias, sentir amor e ódio, ver as crianças crescerem em ritmo que já não estamos mais acostumados, pois pouco se muda na vida adulta além dos cabelos que caem, da pele que desce, as rugas que se sobressaem. É o bastante para separarmos o nocivo do enriquecedor, para percebermos quem tem o coração aberto para você e quem não se encaixa mais.

Com mil erros se pode chegar a um acerto. Eu, com mil acertos que, por meninices, desventuras, dissabores e aventuras deram errado, encontrei o ponto certo para me sentir completo. E sozinho, senhor de mim, pude esperar o destino, desisti de escolher, idealizar, para me deixar ser visto, contemplado, escolhido.

“I… I was standing

You were there

Two worlds collided

And they could never tear us apart

We could live

For a thousand years

But if I hurt you

I'd make wine from your tears

I told you

That we could fly

'Cause we all have wings

But some of us don't know why” (Never Tear Us Apart - INXS)

Primeiro, ela me descobriu. Eu nem a vi. Depois, me espreitou. Eu mal percebi. Do nada, me procurou. Eu não sabia quem era. Santa curiosidade que me fez querer saber e, hoje, ao completar um ano ao lado dela, sei que pelo resto da vida a estarei conhecendo, e ela a mim. Além de nossos filhos, o que mais pode traduzir a eternidade senão a cumplicidade do amor? Qual pode ser a maior expressão do amor verdadeiro senão a compreensão e o otimismo?

Alguns simplesmente não sabem voar. Outros, como eu, aprendem a voar com asas quebradas. Ela tem medo de voar tão alto, como já tive. Com tudo que aprendi, estou aqui para ensiná-la. E vamos voar juntos, sem o medo de cair, com a ciência de saber corrigir a rota sempre que possível.

“Amanhã tudo pode acontecer

Hoje a nossa vida é pequena

Amanhã tudo pode anoitecer

Se você vem comigo

Eu não choro mais...
O que eu quero dizer

O teu sorriso atrai

Entre as coisas mais lindas

Você me dá prazer

Você me dá cartaz

Se você vem comigo

Eu não choro mais…” (Cartaz - Fagner)

No fundo, o que queremos da vida é companhia para atravessá-la. Teremos sorte se conseguirmos angariar os melhores para seguirmos adiante. O fundamental, mesmo, já disse Tom Jobim, é o amor. Aqueles que ousam amar de verdade, na tempestade e na bonança, sairão vencedores desse jogo em que só há uma vida a perder, ou melhor, a aproveitar.

“Who dares to love forever?”