Como podem perceber, não morri aos vinte e sete anos, o que pode ser considerado um alívio. Não que eu pensasse que realmente morreria com esta idade, muito menos que eu desejasse isso para mim. Afinal, quem desejaria? Eu poderia agora continuar, elencar algumas celebridades que faleceram aos vinte e oito, mas esta idade agora não tem o status que têm os vinte e sete no mundo artístico. Em uma pesquisa rápida pode-se encontrar famosos que morreram após completarem vinte e oito, mas incrivelmente não são tantos como os mortos aos vinte e sete. E pode-se perceber também que não eram tão emblemáticos, ou mesmo ícones, no rock e na pop-art.
Por exemplo, o vocalista da banda Blind Melon, uma das famosas bandas-de-uma-só-música, Shannon Hoon, foi encontrado morto com esta idade dentro do ônibus da banda em New Orleans, a cidade dos meus sonhos, por overdose. Deixou uma filha de apenas três meses, o que ainda não tenho. Um ícone do jazz, Bix Beiderbecke, também morreu aos vinte e oito. Perceba que não se comparam aos Jim Morrissons, Jimi Hendrixes, Kurt Cobains e Janis Joplins elencados no texto que deu início a este blog. Sem querer equiparar a vida de cada um de nós, que é importante por si só. Digo isto no sentido do texto dos vinte e sete. Brandon Lee, filho de Bruce Lee, morreu com minha nova idade no set de filmagem de um de seus filmes. Estava prestes a se casar, coisa que também ainda não fiz. E nesta época de pseudo-celebridades, de glamourização do crime, por que não citar a morte de Bemtevi, chefe do tráfico da Rocinha morto há poucos meses aos vinte e oito anos? Porque este texto não se trata de um simples obituário, e não quero misturar as coisas. Além disso, criminosos como ele só passam dos trinta quando têm a sorte de ser presos. E se for começar a contar sobre mortes de pessoas célebres, de sucesso, entro em um campo perigoso. Perigoso como o campo de futebol em que entrou, aos vinte e oito anos, o atacante camaronês Marc-Vivien Foé, do qual saiu morto aos vinte e sete (vejam só!) minutos do segundo tempo de uma partida contra a Colômbia. Sua mulher e filho estavam no estádio e como já disse não tenho esposa nem filhos, ainda.
Não, não vou entrar nessa. Vou usar este espaço para análises e considerações sobre a vida. Chega de morte. Chegou a hora de enaltecer uma característica importante dela. O melhor da morte é esperar por ela, ou seja, viver. E tenho uma vida excepcional. Vou divagar então sobre o quanto e como pode-se mudar os rumos da vida no curto espaço de um ano. Embora eu tenha dito que não poderia fazer nem metade das coisas que ainda não havia feito durante meus vinte e sete, percebo que pude fazer muito, mesmo com o tempo passando cada vez mais rápido. Este é outro fator interessante da vida. Já perceberam que um ano hoje passa muito mais depressa do que quando éramos crianças?
Neste intervalo, algumas certezas caíram por terra, outras se tornaram mais certas. Fatos aconteceram como previsto, outros rumaram para um caminho completamente diferente. A carreira continua um sucesso sem volta. A não ser que eu desista e parta para um outro desafio, uma idéia cada vez mais forte na minha cabeça. Aquele amor arrebatador foi arrebatado por outro ainda mais atordoante. Percebi que aquele era uma fantasia, enquanto o atual é realidade. E como foi bom me dar o direito de mudar. A felicidade pede coragem, e minha coragem me tornou um homem muito mais feliz. Meu projeto musical foi engavetado por outro. Quase sem querer, retomei minha antiga banda e fizemos em poucos meses algo melhor do que fizemos em seis anos na primeira etapa. Sem pretensão, muito menos pressão. Meu livro, por incrível que pareça, cresceu apenas dois capítulos. Mas o início deste blog, também quase sem querer, me fez terminar um outro livro. Este texto fecha o projeto, e dá início a outro. Deixo pronto o livro 'Contos da morte - um sentido para a vida', e passarei a escrever um texto para cada ano de minha vida. Quando morrer, agora espero que aos oitenta e muitos, deixo em testamento que o conjunto deverá ser entregue a alguém que se interesse por publicá-lo.
Em resumo, o ano foi ótimo. Continuo com os mesmos valores de 365 dias atrás. Uma família maravilhosa e amigos para toda a vida, como pude perceber durante as comemorações. Meu novo amor, que seja eterno, me traz a certeza de que meus planos serão concretizados. Tudo lindo, com um único porém. Perdi neste intervalo outro bom amigo e irmão por criação. Primeiramente, há seis anos, perdemos o Fabrício. Agora, no início deste, Murilo. Este texto é para vocês, aonde quer que estejam, ainda nos encontraremos. Me esperem que chego daqui uns sessenta anos para contar as novas. Rumo aos vinte e nove.
Um comentário:
boa, zé...
cheguei aos vinte e oito tb!!!
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